Tarde de domingo
chuvoso e você teve aquela coisa que você tem quando ta insatisfeito com algo.
Aquela coisa de fumar na janela escutando som alto. Mas com desprezo. Não
aquele desprezo de quem tenta ser superior, desprezo puro, daquele que não tem
o objetivo de atingir e atinge. Fiz um chá antes de tentar conversar. Depois
sentei no sofá e você perguntou se eu percebia. Só fiz que sim com a cabeça. No
seu som alto, Jim Morrison cantava docemente “lets swim to the moon, let’s
climb through the tide”. E você me olhou com aquela cara. A cara que você olha
pro mendigo na rua quando não tem dinheiro trocado pra ajudar e pro cachorro
que você não pode levar pra casa. Puta merda, eu tanto te pedi: Não me olha com
aquela cara! E na hora de ir embora você decidiu usar logo essa cara. Com
tantas caras que eu amo ver e com tantas caras que podem vir acompanhadas de
qualquer palavra que eu perdôo porque são caras que adoçam minha estadia no
mundo. Você escolheu a cara de culpa e compaixão e com a boca meio torta. E
doeu tanto. E falou que eu precisava entender que sua cabeça é complicada e
hoje você ta afim e amanhã não sabe mais e você bem que me avisou que ia ser
assim e eu concordei mas eu só concordei porque sou teimosa e insisto em tentar
mudar verdades absolutas do mundo porque não aceito que alguém tenha verdades
absolutas que não consigo ter. E continuava, falando: Ana, você é tão estranha.
E você também é estranho. Você é magro demais e fuma muito e organiza as meias
por cor e não escorre macarrão e não gosta de Caetano. Se você não tem dinheiro
pouco pra dar pro mendigo não consegue dar o dinheiro grande. Porra, eu sou o
mendigo. Se você realmente se importasse com o mendigo largava mão do seu luxo
e dava esse dinheiro pra ele. A culpa não é minha por ser mendigo e aceitar
pouco. Se o fato de eu aceitar pouco incomoda, então me dá muito. Não, eu não
quis dizer isso. Não olha assim de novo. Não vai embora assim correndo. Eu sei
que você tem vontade de sair correndo, mas não vai. Aprende que eu te amo de
verdade e por isso sou mendigo. E me sento bem pequenininha no sofá para você
caber e tomo banho rápido para você usar o banheiro e não gasto mais com
maquiagem porque você é tão mais importante e agora você me diz que isso é
justamente o problema que o fato de eu ser tão mendigo te incomoda. E eu fiz
tudo por você. E você vai embora com uma cara de quem quer pedir desculpas por
não se encaixar e continua tão maravilhoso com a jaqueta de couro que sua mãe
te deu ano passado e você nunca mais volta. E eu continuo mendigando pedaços
seus pela casa porque quando você ria e quando você vinha e quando você dormia
eu era feliz.
Superação a cada dia!
ResponderExcluirEscreve mais, escreve muito, escreve sempre.
Beijo grandão!
Helô
muito bom mesmo! segue escrevendo assim.. beeeijo thais
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